Justiça
Associação de Magistrados critica CNJ por ‘programa de assédio’
Decisão unânime busca apurar conduta magistrados possível desrespeito política de perspectiva de gênero no Judiciário geralmente com base em relato detalhado.
A decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) se deu em resposta a uma representação feita pelo Ministério Público Estadual Goiano, que questionou a conduta dos desembargadores em um julgamento realizado em março de 2022. O processo em questão envolvia uma questão de assédio que gerou muita controvérsia.
A investigação visa avaliar se os desembargadores Silvânio Divino de Alvarenga e Jeová Sardinha agiram de acordo com as normas éticas do Judiciário, especialmente em relação à conduta profissional e interesse público. A decisão do CNJ é um passo importante na garantia da integridade do sistema de justiça e na promoção da transparência e responsabilidade nos processos judiciais.
Magistrados são acusados de assédio sexual em julgamento de caso
Durante uma sessão de julgamento, dois desembargadores empenharam-se em uma conduta que pode ser considerada preconceituosa, ao abordar um caso de assédio sexual. A manifestação dos magistrados, que incluiu a utilização de expressões incômodas, foi considerada pelo ministro Mauro Campbell Marques, corregedor nacional de Justiça, como algo que extrapolou os limites da análise jurisdicional. A perspectiva de gênero defendida pelo próprio Judiciário foi considerada violada pelas declarações dos magistrados, que sugeriram que a vítima seria uma ‘opção menos atraente’ e que o assédio se tornou um ‘modismo’ em uma ‘caça aos homens’.
Declarações necessitam de investigação
De acordo com o ministro Campbell, as declarações dos magistrados precisam ser investigadas para verificar se ferem a Constituição Federal e as normativas do CNJ, incluindo a Resolução CNJ 492/23. Esta resolução estabelece a obrigatoriedade da perspectiva de gênero em todas as esferas de julgamento no país. A palavra ‘modismo’ usada pelos desembargadores foi considerada como desconsiderando a luta social contra o assédio e sugestiva de um descompasso com os avanços na promoção da equidade de gênero.
Posicionamento do CNJ
O presidente do CNJ e do STF, ministro Luís Roberto Barroso, também se manifestou sobre o caso, defendendo que a conduta dos magistrados deve ser avaliada com rigor para combater o machismo estrutural que ainda prevalece na sociedade brasileira. Para Barroso, o Conselho tem a responsabilidade de promover a superação de estereótipos que prejudicam a equidade de gênero e reforçar uma mudança de paradigma. A conselheira Renata Gil, supervisora da Política Judiciária Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, ressaltou que o CNJ tem intensificado o treinamento de juízes de 1º grau quanto ao Protocolo para Julgamento com Perspectiva de Gênero, mas ainda é necessário um esforço maior para que a política seja compreendida e aplicada entre os magistrados de 2º grau.
Processo disciplinar
A decisão pela abertura do PAD reforça o compromisso do CNJ com a igualdade de gênero e a adequação do Judiciário às demandas sociais, em especial as que dizem respeito à proteção das vítimas de assédio e à necessidade de respeito nas manifestações judiciais. O processo disciplinar dará seguimento à apuração dos fatos e poderá resultar em sanções aos desembargadores, dependendo do desfecho das investigações.
Fonte: © Migalhas