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Vizinhos gostariam que o baile funk acabasse com violência

Moradores recriminam violência policial e pancadão na ponte. Adegas vizinha reclama do barulho.
Na noite de 19 de março de 2023, em uma localidade de forte movimento, um homem foi jogado da ponte por agentes policiais, enquanto mais um, baleado, desapareceu. Uma câmera de segurança registrou a cena, a qual gerou fortes críticas à atuação da polícia. A repercussão da violência levou ao questionamento de muitos moradores sobre o futuro do baile programado para o próximo domingo.
A movimentação de repórteres e policiais no local do ocorrido só contribuiu para aumentar a insegurança entre os moradores, que preferem manter suas opiniões silenciadas. A expectativa é que, em um ambiente de pancadão, a falta de liberdade de expressão continue a ser um problema. O baile, um evento comumente associado à diversão, agora soa como um símbolo de uma sociedade que não valoriza a liberdade.
Arremesso de homem da ponte: Vila Clara, zona sul de São Paulo, está em alerta
O clima entre os moradores da vizinhança da ponte na Vila Clara, zona sul de São Paulo, donde um policial militar jogou um homem, varia entre a condenação da ação do PM e a expectativa sobre a continuidade do baile funk. Por eles, acabara de acontecer um evento que gerou uma grande movimentação na área, e a expectativa é de que o baile continue.
Na tarde de 4 de dezembro, enquanto policiais civis buscavam imagens de câmeras de segurança, a reportagem do Visão do Corre desceu ao córrego onde Marcelo Amaral foi jogado pelo policial militar Luan Felipe Alves Pereira.
BAILE FUNK: A CHAVE PARA ENTENDER O CASO
O canal é de concreto e a água que passa é rasa, não ultrapassa a altura de uma caneta. A queda de Amaral foi potencializada pela dureza do chão. E sim, moram pessoas lá embaixo. Em cima, entre os moradores e comerciantes, além da apreensão natural após virarem notícia, o receio é de represálias de forças oficiais ou não. Ele se soma à desconfiança com a presença de repórteres e policiais investigando o caso.
O córrego do Cordeiro, onde Marcelo Amaral foi jogado, a corrente de água é rasa e o leito é de concreto.
BALEI FUNK E PANCADÃO: O CLIMA ENTRE OS VIZINHOS
‘Sabe por que o pessoal não quer falar? Sabe o que acontece quando vocês forem embora? A comunidade está revoltada com polícia, barulho da moto, do baile. Quando mataram o menor aí, a gente foi pra rua e até queimou ônibus, agora não’, diz o atendente de uma adega vizinha da ponte. Ele se refere à morte de Guilherme Silva Guedes, de 15 anos, que gerou passeata e queima de sete ônibus em 2020. Suspeitava-se que policiais tinham assassinado o jovem, encontrado com dois tiros na cabeça e sinais de espancamento. Poucos vizinhos viram, apesar da muvuca. Poucos vizinhos viram a cena do arremesso da ponte porque costumam se fechar em casa durante o baile. ‘Domingo não dá nem para sair na rua. Vi a cena depois, me mostraram o vídeo’, conta a cabeleireira com salão a poucos passos da ponte.
BALEI FUNK: O PONTO FINAL DA LINHA PINHEIROS-VILA CLARA
Do outro lado da rua, a funcionária não abre o bar aos domingos, quando rola o Baile do Final, ou da Final, em referência ao local do pancadão, no ponto final da linha Pinheiros-Vila Clara, na rua Padre Antônio de Gouveia, 81. Toda a rua Padre Antônio de Gouveia é tomada pelo Baile do Final, realizado aos domingos. Reclamações dos vizinhos e repressão policial são constantes. Foto: Marcos Zibordi
Mesmo quem abriu seus comércios, como bares e adegas, estava ocupado na hora do arremesso. Apesar da grande quantidade de pessoas no baile, em cima da ponte havia policiais e quem estava sendo abordado. Óbvio que muita gente viu, mas à distância segura. A maioria, porém, nem mora na Vila Clara. O funcionário de um bar presenciou o tumulto e confirma que os policiais afastaram quem tentou ajudar o homem arremessado da ponte. ‘É sempre assim, além do cara que jogaram, teve um baleado. Mas não coloca meu nome não, tio, cê é…’.
Fonte: @ Terra