Educação
Jovens de periferia enfrentam desafios cotas no acesso à universidade pública
Repercussão de preconceito contra cotistas ocorre após o lançamento de De Onde Eles Vêm, livro que conta história de jovem negro na universidade pública por meio de periferia e regime de cotas, considerado em ambiente de raciais relações no mundo por poucos.
Em uma partida de handebol universitário, estudantes da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) afirmaram que apenas alguém de baixa renda ou de uma família de menor poder aquisitivo poderia ser um cotista da Universidade de São Paulo.
Para eles, essas pessoas são as mais pobres e, por isso, podem estar mais dispostas a se comprometer com os estudos e não estariam preocupadas com questões financeiras, como o pagamento das cotas estudantis. Além disso, as cotas a quem elas se referiam parecem ser definidas como benefícios específicos para determinados grupos de pessoas, o que poderia incluir aqueles que necessitam de mais apoio financeiro.
Consequências da Substituição de um Mundo
A sociedade está percebendo cada vez mais as consequências imprevisíveis de uma mudança drasticamente eficaz e provocada pela substituição de um mundo elitista por outro. Em um ambiente delicado, onde a elite se torna cada vez mais incompreensível, podemos perceber a insatisfação crescente quando jovens de outras classes sociais se integram em um ambiente que, de repente, não é mais o mesmo. Nesses momentos, a elite parece se sentir deslocada, enquanto os jovens, especialmente os estudantes negros, enfrentam desafios para se adaptar e se afirmar no ambiente universitário.
Explosão de Preconceitos em Universidades
Os preconceitos em universidades brasileiras, especialmente em relação a estudantes cotistas, estão ganhando espaço e intensidade, reavivando a discussão sobre racismo e desigualdade social. Um caso recente em uma universidade do estado de São Paulo evidencia o problema. Três alunos foram flagrados chamando seus colegas da Universidade de São Paulo de ‘pobres’ e ‘cotistas’, em uma situação que denota uma mentalidade arcaica e discriminatória. Esse tipo de comportamento é uma consequência da percepção de que o sistema de cotas está alterando o ambiente universitário, onde muitos alunos sentem que sua superioridade está sendo ameaçada.
A História de Joaquim e a Periferia
Joaquim é o protagonista de um romance escrito por Jeferson Tenório, que explora a experiência de um jovem negro de 24 anos da periferia de Porto Alegre que entra na universidade pública por meio do sistema de cotas. Para Tenório, essa história ilustra a tensão crescente entre a elite que se sente ameaçada pela ascensão social de jovens negros e a necessidade de superar esses preconceitos. ‘Existe uma elite que se sente ameaçada por ter de lidar com pessoas pobres e negras como seus colegas de universidade,’ afirma Tenório. ‘Há um sentimento de frustração e um sentimento de entender que não adianta ter só os meios de produção, que não é mais possível ser mediano e ser medíocre e ter as coisas mais facilitadas como uma classe média sempre teve.’
O Impacto da Censura e da Exclusão
O livro de Jeferson Tenório, ‘De Onde Eles Vêm’, não apenas narra a história de Joaquim como também aborda questões mais amplas de exclusão e censura. O livro ganhou destaque quando três estados solicitaram a retirada da obra dos livros didáticos, um ato que o autor classificou como ‘censura’. A experiência de Tenório como o primeiro estudante a concluir uma graduação na Universidade Federal do Rio Grande do Sul por meio do sistema de cotas também é um tema central, mostrando como esses estudantes enfrentam desafios e preconceitos em todos os níveis. ‘Antes de me formar, lembro de ouvir nos corredores que seria difícil conseguir emprego, que nenhuma escola contrataria alguém formado por cotas,’ recorda Tenório. ‘Diziam também que os cotistas diminuiriam as notas do curso, uma série de preconceitos que não se confirmaram.’
Desafios da Ascensão Social
A ascensão social de jovens negros em universidades públicas é um tema complexo que envolve desafios psicológicos, sociais e econômicos. Os alunos negros de periferia e de escolas públicas enfrentam obstáculos significativos ao ingressar em um ambiente considerado para poucos, incluindo a luta pela permanência. Com a introdução do sistema de cotas, esses jovens começam a enfrentar conflitos que seus colegas geralmente não enfrentam. O livro de Tenório aborda esses desafios e a necessidade de superar esses obstáculos para alcançar a igualdade.
Fonte: © G1 – Globo Mundo