Finanças
Carrefour x Frigoríficos
Analistas acham que papéis da rede francesa de mercados Carrefour devem sofrer mais do que os dos frigoríficos.
Notícias recentes apontam que os frigoríficos brasileiros de carne bovina tomaram a decisão de suspender as entregas às lojas do grupo francês Carrefour no Brasil, afetando a oferta de produtos de carne bovina em suas lojas.
Esta medida, que visa garantir a qualidade e a segurança dos produtos, impactará diretamente nas lojas do grupo Carrefour, que contarão com uma oferta mais limitada de carne bovina. A empresa precisará adaptar sua estratégia de produção e abastecimento para minimizar os efeitos dessa decisão, garantindo que as necessidades dos consumidores sejam atendidas.
Crise no Carrefour: O que está em jogo
A medida de suspender a compra de carnes bovinas brasileiras pela rede francesa de mercados, Carrefour, gerou reações negativas devido à declaração do presidente global da companhia, Alexandre Bompard, de que a rede não vai mais comprar carnes de países do Mercosul para comercializar na França, especialmente devido a processos e dúvidas em relação a questões sanitárias locais. No entanto, segundo analistas, a ação tende a ter mais impacto no curto prazo e principalmente na rede de mercados do Carrefour do que nos frigoríficos.
Consequências para o Carrefour
Para Marco Saravalle, estrategista-chefe da MSX Invest, a situação é uma história mal contada e que não necessariamente terá repercussões nas ações. Isso porque as declarações do executivo global podem não impactar o que de fato acontece na divisão brasileira da empresa. É muito cedo para avaliar o impacto nas ações, especialmente porque é um caso isolado, e as ações dos frigoríficos costumam reagir ‘quando há uma decisão política ou setorial’, como por exemplo, um país que teve liberação ou fechamento de mercado para aquelas companhias.
Impacto nas ações
Ele não descarta, no entanto, que o caso deve trazer incertezas. Mas, para ele, é mais provável que as ações do Carrefour sejam impactadas negativamente do que as dos frigoríficos. Isso porque, caso os frigoríficos de fato cortem as vendas para a rede, é ela quem sai prejudicada. ‘Concordo que talvez traga uma incerteza, mas muito mais para o Carrefour local do que para os frigoríficos. Imagine se o consumidor encontra dificuldades de encontrar carne na gôndola? Quem mais sofre é o próprio Carrefour local brasileiro’, diz.
Boicote e protecionismo
Segundo João Daronco, analista da Suno, as declarações parecem ter sido mais um apoio aos produtores rurais franceses do que uma crítica aos produtores da América do Sul. ‘Na minha visão, ele fez isso não tanto com o objetivo de criticar os produtores brasileiros, mas de ganhar um certo apoio do grupo rural francês. Porque os produtores de lá têm se comportado de maneira ríspida com a ideia de tratados comerciais entre o Mercosul e a União Europeia. Mas, na minha opinião, foi um tiro no pé’, diz. Julia Monteiro, analista CNPI de ações, concorda que as declarações foram feitas para ‘acalmar’ os produtores rurais franceses.
Consequências futuras
Os analistas ainda concordam que quem deve sair perdendo nisso é o Carrefour. Para Daronco, caso o ‘boicote’ dos frigoríficos dure, isso pode impactar o balanço da companhia e, consequentemente, suas ações. Monteiro concorda que as declarações podem prejudicar as ações da rede de mercados e ‘embasar futuros boicotes’. ‘Isso pode ser interpretado como um protecionismo da França com seus próprios agricultores, mas que já esperava rolando, mas não de maneira declarada e com esses motivos, que são errados’, diz. Ela destaca, no entanto, que o impacto nas ações pode ser de curto prazo. ‘Provavelmente haverá uma retratação’, diz. É importante lembrar que o Carrefour é uma das maiores redes de mercados da França.
Fonte: @ Valor Invest Globo