Tecnologia
Meta, AI para WhatsApp: como usará seus dados para treinar robôs

Ferramenta de IA genérica em teste gradualmente para brasileiros, atrasada após decisão governamental sobre uso de dados pessoais.
Com a incorporação da Meta AI no WhatsApp dos brasileiros, surge a preocupação de como a empresa utilizará os dados pessoais dos usuários para treinar seus robôs. A ferramenta, na verdade, é uma IA generativa, que permite aos robôs gerar conteúdo como textos, imagens ou áudios em resposta a solicitações dos usuários.
A Meta AI utiliza inteligência artificial para analisar o comportamento dos usuários e melhorar a experiência do WhatsApp. No entanto, essa capacidade de aprendizado pode gerar preocupações sobre como os dados pessoais dos usuários são coletados e utilizados. A empresa afirma que os dados são tratados de forma segura, mas a transparência sobre como esses dados são utilizados é um tema que merece atenção.
Meta lança ferramenta de IA no WhatsApp
A Meta AI no WhatsApp é uma ferramenta que permite aos usuários desfrutar de experiências mais inteligentes e personalizadas, mas com um detalhe importante: a ferramenta está baseada na inteligência artificial (IA) generativa, que necessita de dados para aprender e melhorar. Essa ferramenta está disponível em mais de 20 países, permitindo que os usuários conversem com robôs de IA para obter dicas, fazer perguntas ou solicitar traduções. Mas, como funciona essa inteligência artificial? Para gerar conteúdo, esses robôs de IA generativa precisam ser treinados com uma grande quantidade de dados e catalogados, o que pode parecer uma tarefa árdua. De acordo com a Meta, o conteúdo da conversa com um robô é usado para treinar a IA, mas esse conteúdo não é associado a informações pessoais. Por exemplo, se uma pessoa chamada Ana solicitar várias informações sobre filmes, esses pedidos vão ajudar a treinar o robô, mas o sistema não vai registrar que foi a Ana que pediu isso. A empresa garante que, no WhatsApp, todas as mensagens e ligações pessoais – por exemplo, conversas com amigos – não são acessadas por ela e nem pela ferramenta de IA. Essas comunicações são criptografadas, garantindo a privacidade dos usuários.
No entanto, a política de privacidade da empresa prevê o uso dos chamados metadados, que incluem a localização, o tipo de celular e versão do aplicativo do usuário. Para Rafael Zanatta, codiretor da organização Data Privacy Brasil, essas informações podem ser usadas pela empresa com fins comerciais. ‘A Meta tem um histórico de exploração dos metadados. Ela sempre diz que os dados são protegidos e que a criptografia ponta a ponta está mantida. Mas ela faz criptografia para o conteúdo da conversa, e não para os metadados. E aí ela explora economicamente esses metadados’, explica Zanatta.
Por ser um dos países que mais usa o WhatsApp, o volume de metadados que podem ser coletados é imenso, e isso pode ser usado para direcionar a publicidade ou encontrar padrões de consumo, por exemplo. ‘Tem estudos de economia que mostram que você consegue catalogar a população a partir dos metadados do celular dela. Se ela está num Wi-Fi potente no iPhone, ela pertence a uma classe bem específica. Ou se está no 3G, em mobilidade urbana, usando um celular velho’, exemplifica.
A ferramenta Meta AI está disponível para parte dos usuários brasileiros no WhatsApp desde o início de outubro, embora essa estreia estivesse inicialmente prevista para julho. O lançamento da ferramenta precisou ser postergado após um órgão brasileiro questionar como a empresa, dona também das redes Facebook e Instagram, pretendia usar postagens feitas pelos usuários para treinar robôs de IA. Na época, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) proibiu a empresa de usar dados pessoais dos brasileiros para abastecer suas ferramentas de IA com informações. No fim de agosto, a proibição foi suspensa, após a Meta cumprir requisitos da agência – como dar maior transparência sobre o uso de dados e permitir que os usuários exerçam o ‘direito de oposição’ ao uso de dados pela IA.
A Meta disponibiliza um formulário online para que uma pessoa se oponha ao uso de suas informações, mas essa medida não foi suficiente para a ANPD, que continuou a questionar a Meta sobre o seu processo de coleta e uso de dados. ‘A Meta precisa ser mais transparente sobre como ela usa nossos dados. Não podemos confiar apenas na palavra dela’, disse um porta-voz da ANPD.
Fonte: © G1 – Tecnologia